domingo, 7 de junho de 2009

Serviços de Psicologia

Relataremos dois casos de pacientes crianças internadas e a atuação da psicóloga Marilia de Freitas Maakaroun (MG).

Caso nº 1> R.T.A. - 5 anos - sexo feminino - Diagnóstico - Cardiopatia congênita, com indicação de cirurgia para correção. Foi solicitada ao Setor de Psicologia e preparação da criança para a intervenção cirúrgica.
Trata-se de uma criança alegre, estabelecendo fácil contato. Possui verbalização bastante rica para sua idade.
À 1ª entrevista, constatamos que a criança apresentava-se confusa. Não compreendia o porquê de sua internação, sentindo o afastamento do lar como punição. Sendo a 1ª vez que era hospitalizada, demonstrava simultaneamente medo pela situação desconhecida e atração pelos objetos que a rodeavam, e que lhe despertavam curiosidade. Revelou atração especial pelas camas individuais do hospital. É que, em casa, dormia junto com os irmãos em um colchão colocado no chão, no quarto dos pais.
Em contato com outras crianças, evitava conversar sobre a cirurgia, nas sessões, nada revelava sobre seus temores, mas portava-se de maneira excepcionalmente adequada para sua idade, fazendo "papel de menina boazinha". Evitava brincar com o "playmobil" utilizado para preparação para cirurgia, sendo sua aproximação gradual, entremeada de diversas fugas e retornos à situação.
Não manifestava diretamente sua agressividade, mas projetava-se em animais que desenhava ao final da sessão e que eliminava logo a seguir. À medida em que elaborava a necessidade da cirurgia que lhe era explicada verbalmente e através de brinquedos, mostrou-se mais tranquila.
Efetuada a cirurgia, teve um pós-operatório muito bom. A criança manteve-se calma, colaboradora e meiga. No C.T.I. explicamos-lhe o porquê de cada aparelho e sua necessidade.
Entretanto, ao voltar para a enfermaria, apresentou depressão bastante acentuada. Permanecia apática, não participando das brincadeiras, como fazia anteriormente.
Durante as sessões de ludoterapia, foi, aos poucos, falando sobre suas fantasias: revelou que sentia medo de que o líquido que bebia saísse "pelos buracos do corpo" - ou seja, pelas incisões cirúrgicas e que estas pudessem abrir-se e que "a água saísse pela barriga". Revelou também o temor de que lhe tivessem retirado algo de dentro do organismo e que não tivesse sido recolocado durante a cirurgia (estaria esta ansiedade ligada à situação da castração?).
Procuramos explicar-lhe que nada disto ocorreria. Sua depressão, entretanto, só foi realmente afastada quando conseguiu manisfestar a raiva que sentia da equipe médica, por "terem feito com que sentisse dores". Apesar de aparentemente aceitar explicações sobre a necessidade da cirurgia, as dores a magoaram bastante. Sentia-se traída. Afinal, fora "boazinha" durante sua estadia no hospital e não possuia nenhum referencial a que pudesse recorrer para imaginar o sofrimento a que se é submetido em uma cirurgia cardíaca.
Manisfetava, nesta época, intensa saudade de casa, pois as visitas de seus pais eram bastantes raras (pois residem no interior). Recebeu alta médica em boas condições físicas. Acreditamos que a criança se beneficiaria com um acompanhemento psicólogico pós-cirúrgico mais prolongado. Todavia, isto não foi possível, por se tratar de criança que reside no interior, com poucas possibilidades de retornar com mais frequência.

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