domingo, 7 de junho de 2009

Serviço de Psicologia

Caso nº 2 - Vi F. A. S. pela 1ª vez no hospital, em quarto separado, com broncopneumonia, meningite, septicemia e lesões necróticas de pele, o que lhe dava uma aparência muita feia.
Com 1 ano e 22 dias era sua 7ª internação, sempre por pneumonia ou desidratação. Estava no hospital há 12 dias, com peso de 5,200kg, não conseguia assentar ou engatinhar, sem dentes e não falava.
A criança, por estar sempre internada, não teve oportunidade de receber afeto materno, nem de estabelecer um objeto de amor. No hospital, como muitas pessoas passavam por ela rapidamente, e a criança não tinha uma pessoa com quem estabelecer contato, mantinha constantemente o braço sobre os olhos; e quando via alguém no quarto, puxava o cobertor até tampar a visão, isolando-se do ambiente que era muito agressivo para ela. Se era tocada, chorava.
Quando os pais estavam presentes, olhava para eles, chorando, tampava o rosto e assim permanecia, negando a presença deles. A mãe tinha muita resistência em pegar a criança, mas aos poucos através de conversas com ela, sobre a importância da sua presença e carinho, passou a ficar com a filha no colo, durante o horário de visitas. No entanto, não lhe dava total atenção, conversando com outras pessoas ali presentes.
Feita a anamnese, a mãe relata que a criança nasceu de 7 meses, de fórceps, e ficou 25 dias na uncubadora. Como eram duas crianças gêmeas, ela quis dar uma, mas o marido não concordou. "Ficam muito no berço, e, em casa, F. A. S. é muito nervosa".
O trabalho da psicóloga era, primeiramente, estimular a criança. Perto do berço, chamava pelo nome em tonalidades e posições diferentes. F. A. S. passou então a tirar o cobertor dos olhos, e procurar quem a chamava. A princípio, a criança não aceitava o contato, e chorava com a minha presença; depois passou a olhar, interessando-se pela estimulação. A criança foi estabelecendo vínculo, e não muito depois, passou a rir quando eu chegava e chorar quando me afastava dela. Era feito carinho nas partes do corpo que não estavam enfaixadas, movimentos para despertar sua atenção, visão, e audição, sempre acompanhados de estimulação verbal.
Foi transferida para uma enfermaria coletiva. Estava hipertensa e iniciei um trabalho de relaxamento.
Quando a relação com F. A. S. estava bem estabelecida, passei a trabalhar com ela sempre no meu colo, o qual aceitava prontamente, assim como as trocas de fraldas, corte de unhas, mamadeiras, e algumas vezes o almoço. A criança sabia então que uma pessoa gostava dela, que com ela podia se relacionar e a ela podia dirigir seu afeto, podendo perceber o que se passava além da relação, no meio ambiente. Nesta época, já apresentava condutas espontâneas; palmas, dar tchau e fazer sons com a boca.
Ao apresentar condições de alta, a mãe foi chamada e conscientizada do processo passado pela filha, e informada que ela apresentava ainda um retardo considerável no seu desenvolvimento psicomotor.
OBS: a criança voltou ainda mais 2 vezes ao hospital, com diagnóstico de pneumonia, num espaço de 4 meses, quando então passou a fazer controle ambulatorial.
O trabalho com a criança foi feito em 29 dias.

Um comentário:

  1. Me surpreendi com este relato. Sempre tive ciência da importância do trabalho na área da psicologia e
    este relato só confirmou isso. Deveria existir um trabalho psicológico em hospitais, na verdade em diversos lugares que pudessem atender toda a população. Jane

    ResponderExcluir